RESUMO
A governança corporativa e multinível desempenha papel crucial na criação de valor em projetos industriais e de infraestrutura. A integração eficaz da gestão de riscos, planos de contingência, gestão de crises e planos de continuidade de negócios é essencial para a sustentabilidade e sucesso desses empreendimentos. Este artigo explora os desafios e oportunidades associados a essas práticas, destacando a importância da transparência, responsabilidade corporativa e engajamento das partes interessadas.
1. INTRODUÇÃO
No cenário atual, as organizações enfrentam a necessidade crescente de robustez e transparência, especialmente nos setores industriais e de infraestrutura, caracterizados por investimentos significativos e intensa regulação estatal. A adoção de boas práticas de governança corporativa não apenas promove segurança e atratividade para investidores, mas também estabelece bases sólidas para a gestão eficaz de riscos e conformidade regulatória. Além disso, a implementação de planos de contingência, gestão de crises e continuidade de negócios é fundamental para prevenir crises, preservar a reputação corporativa e assegurar a sustentabilidade operacional a longo prazo.
Paralelamente, o conceito de governança multinível, que envolve a articulação entre diferentes esferas governamentais (municipal, estadual e federal) e a colaboração entre os setores público e privado, ganha destaque. Essa sinergia é vital em empreendimentos de grande porte, pois requer a coordenação entre órgãos reguladores, empresas, comunidades locais e investidores para alcançar resultados socioeconômicos e ambientais satisfatórios.
Este artigo examina como a governança corporativa e multinível, aliada à gestão de riscos e aos planos integrados de contingência, contribui para a criação de valor em projetos industriais e de infraestrutura.
2. DESENVOLVIMENTO
A governança corporativa é definida como um sistema composto por princípios, regras, estruturas e processos pelos quais as organizações são dirigidas e monitoradas, visando à geração de valor sustentável para a organização, seus sócios e a sociedade em geral. Esse sistema orienta a atuação dos agentes de governança na busca pelo equilíbrio entre os interesses de todas as partes interessadas, contribuindo positivamente para a sociedade e o meio ambiente.
Empresas que investem em uma governança sólida tendem a reduzir o custo de capital, pois os investidores percebem menor risco e maior previsibilidade de retorno. Em projetos de grande porte nos setores industrial e de infraestrutura, uma boa governança atrai parceiros estratégicos, facilita financiamentos de longo prazo e consolida uma imagem confiável perante órgãos reguladores e demais stakeholders.
Para que grandes projetos industriais e de infraestrutura alcancem resultados consistentes, é essencial alinhar a governança corporativa interna ao arcabouço regulatório e às políticas públicas vigentes em diversas esferas governamentais. Esse alinhamento, conhecido como governança multinível, implica: Coordenação Interinstitucional: Cooperação entre empresas, agências reguladoras, ministérios e órgãos ambientais, evitando sobreposições de competências e lacunas regulatórias.; Engajamento de Partes Interessadas: Inclusão ativa de comunidades locais, sindicatos, associações comerciais e outros grupos impactados, promovendo maior legitimidade e aceitação social do empreendimento.; Harmonização de Procedimentos: Adaptação dos padrões de compliance e boas práticas corporativas às exigências de cada nível de governo, garantindo fluidez no licenciamento, na fiscalização e nos processos de contratação.
O sucesso de uma iniciativa de grande porte depende não apenas de uma boa governança corporativa, mas também de uma relação sinérgica entre o setor privado e o setor público, assegurando agilidade, transparência e estabilidade para o projeto.
Todos os setores da economia estão sujeitos a legislações e normas específicas, tanto em nível nacional quanto internacional. A complexidade regulatória exige uma visão holística de compliance que inclua aspectos trabalhistas, ambientais, tributários, de segurança operacional, saúde, sanitários e urbanísticos. A integração entre gestão de riscos, governança corporativa e compliance permite maior resiliência organizacional e uma resposta mais eficaz a crises.
A gestão de continuidade de negócios (GCN) emerge como uma estratégia fundamental para garantir que uma organização possa enfrentar interrupções, se adaptar e continuar a oferecer produtos e serviços essenciais. Os desafios podem ser imprevisíveis, mas a preparação é a chave para mitigar seus impactos. Isso implica a identificação proativa de riscos, a criação de planos de resposta eficazes e a implementação de estratégias que garantam a continuidade das operações, independentemente do que o futuro reserve .
2.1 Planos de Contingência e Continuidade de Negócios
Grandes desastres — sejam naturais, tecnológicos ou socioeconômicos — exigem planos de contingência integrados entre o setor público e o privado. Essa integração garante:
- Coordenação Eficaz: Definição de responsabilidades e protocolos de ação entre empresas, Defesa Civil, órgãos reguladores e forças de segurança.
- Melhor Alocação de Recursos: Compartilhamento de informações, infraestrutura e equipes para minimizar danos e acelerar a recuperação pós-crise.
- Maior Legitimidade e Apoio Social: Quando governo e empresas atuam conjuntamente, a comunidade local reconhece a seriedade e a eficiência das ações emergenciais.
Além dos impactos materiais, crises e desastres podem abalar a imagem de uma organização e a confiança dos stakeholders. Por isso, é crucial ter planos de gestão de crises que contemplem estratégias de comunicação claras e tempestivas, proteção de serviços essenciais e suporte à força de trabalho.
Para mitigar riscos e proteger o patrimônio das atividades econômicas, o Plano de Continuidade de Negócios (Business Continuity Plan – BCP) deve mapear ativos críticos, estabelecer estruturas de redundância e promover treinamentos periódicos
3. CONCLUSÃO
A governança corporativa e multinível desempenha um papel essencial na criação de valor em projetos industriais e de infraestrutura, promovendo transparência, responsabilidade e eficiência na gestão de riscos. A integração de boas práticas de governança com planos robustos de contingência e continuidade de negócios é fundamental para garantir a resiliência das organizações frente a crises e desafios operacionais.
Empresas que adotam uma abordagem proativa na gestão de riscos e no alinhamento com as normativas regulatórias têm maior capacidade de atrair investimentos e manter sua competitividade a longo prazo. Além disso, a sinergia entre o setor privado e as diversas esferas governamentais é um fator determinante para o sucesso de empreendimentos de grande porte, assegurando a sustentabilidade econômica, social e ambiental dos projetos.
Por fim, a implementação de planos integrados de gestão de crises e continuidade de negócios permite que organizações minimizem impactos negativos, protejam sua reputação e garantam a confiança de stakeholders. Dessa forma, a governança eficaz se traduz não apenas em conformidade regulatória, mas também em uma vantagem estratégica para a perenidade e o crescimento sustentável dos projetos industriais e de infraestrutura.
AUTOR
Luis Antonio de Mello Awazu
Advogado, membro de Conselhos de Administração, Consultor em Estratégia de Negócios, Governança, Riscos e Compliance. Possui vasta experiência em projetos de infraestrutura portuária, energia e logística, além de atuação destacada nos setores público e privado, com foco em sustentabilidade, prevenção de desastres, fortalecimento de governança corporativa e implantação de planos de contingência e continuidade de negócios. Email: luis.awazu@gmail.com..
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